Clichê erótico

O problema da literatura erótica para mulheres é que tudo é sempre muito repetitivo. O cara bonito, geralmente rico, se apaixona por uma garota improvável numa circunstância banal e ali rolam até os respectivos orgasmos. Tire ou coloque alguns detalhes, mas o enredo principal é este.
Depois de sucumbir e, enfim, ler a história de Christian Grey não poderia ter mais certeza de que além de clichê, estes livros são uma versão adulta dos contos da Disney. Anastasia certamente seria uma Bela, mesmo que seu “Fifty shades” fosse mais aprazível aos olhos que muita Fera por aí, mas ainda assim.

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Em seguida, me vi lendo “A bibliotecária” de Logan Belle que copia ao máximo o imerecido sucesso da E. L. James (cara rico que não aceita ser tocado; leve sugestão ao complexo de Édipo; passado nebuloso; adora uma submissa) e não passa de uma versão da Cinderela. Regina é a moça bonita e tímida que ganha um banho de loja e um dominador. Pelos deuses, Anastasia e Regina têm até profissões semelhantes: trabalham com livros.

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Sinto como se fosse uma verdade universal que só pelo fato de já se encaixarem numa categoria, a de livros rated + 18, não precisassem ter uma história de verdade (e o oposto se prova verdadeiro: me diga em quantos livros de aventura ou ficção científica você encontra uma cena de sexo bem escrita?). E, adorados editores, isto não é verdade!
Até parece que só existe uma forma de fazer sexo e todas elas são mecanicamente coreografadas! Posso dizer seguramente que já li fanfictions mais criativas neste ponto.
De longe, a personagem que mais despertou a minha curiosidade foi a entregadora de visual alternativo e totalmente irrelevante para o contexto geral do livro e deste post.

Um parênteses

Diga-se de passagem que acho estas histórias fictícias meio difíceis de engolir, já que contrariam em tanto as regras básicas de uma relação BDSM. Não sou expert nisto, mas até onde sei, ninguém vai pra cama (ou outra superfície) antes de estabelecer clara e firmemente todos os limites para ambos os envolvidos e a forma despreocupada com que os personagens se envolvem me deixa em dúvida.
Nos toma a empatia ver um cara com jeito de cachorrinho perdido dizer que BDSM é só sexo, logo, não significa nada e a garota pode confiar nele.
Mas esta é a questão: não creio que a dominação real (a arte imita, sim, a vida) permita algo tão superficial. Contudo, de novo, não conheço todas as regras deste mundo.
Superado este ponto, outra coisa que me agradaria é ver um diálogo mais palpável. Esta simulação de que a garota não sabe que algumas pessoas curtem algemas, por exemplo, e a todo instante reprisar a dúvida sobre aderir ao estilo é forçar demais a ingenuidade garganta abaixo. (E, pessoalmente, creio que existam coisas melhores pra se engolir.)

E tem outra coisa

Se Sebastian ou Christian fossem de classe média e tivessem uma profissão mais modesta acredito que a mesma mulherada fã destes livros simplesmente faria uma fogueira com eles em praça pública. Visualizo a cena com faixas de “Violência doméstica: ‘um tapinha’ DÓI SIM!” e gente andando com os peitos de fora.
Não estou aqui fazendo juízo de valor sobre quem gosta deste tipo de literatura, só enfatizo um tópico que vejo frequentemente em discussão em todos os lugares. Cá, do meu ladinho, leio de tudo e a não ser que o livro seja MUITO INSUPORTÁVEL, vou até a última página. Isto não me diminui como mulher, ser humano ou terráquea.

Resumo do dia

A bibliotecária

A cenas são – ridiculamente – as mesmas, então, acho nota 1 de 5 quase um Oscar.

2 comentários sobre “Clichê erótico

  1. Gostei do seu comentário sobre os filmes, foi na essência…, na fantasia da nossa cultura…, Me fez recordar do filme antigo que assisti quando estava na faculdade Império dos Sentidos de Nagisa Oshima, que desde aquela época segue o mesmo roteiro…, rico e dominador!

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